Nestlé sob acusações por altos níveis de açúcar em Cerelac em Moçambique e África

A Nestlé, uma das maiores empresas de alimentos e bebidas a nível global, enfrenta acusações sérias sobre a venda de produtos para bebés com níveis elevados de açúcar no continente africano. 

Os estudos revelam que os produtos comercializados em Moçambique contêm mais açúcar do que os disponíveis na África do Sul.

Uma investigação efectuada pela organização Public Eye apontou que a empresa tem colocado no mercado africano a linha Cerelac carregada com açúcar na sua fórmula, obtendo assim lucros à custa dos esforços dos pais que tentam melhorar a alimentação dos seus filhos recém-nascidos.

A pesquisa envolveu a recolha de cerca de cem produtos Cerelac em 20 países africanos, incluindo Moçambique, e os resultados mostraram que em 90% dos casos foram adicionados açúcares. Em média, cada porção de Cerelac analisada contém quase seis gramas de açúcar adicionado, o que equivale a cerca de um cubo e meio de açúcar. Este valor representa um aumento de 50% face à média encontrada em investigações anteriores que focaram na Ásia e na América Latina.

A investigação revelou ainda que a maior quantidade de açúcar detectada na África foi de 7,5 gramas por porção, correspondente a quase dois cubos de açúcar, encontrada num produto Cerelac comercializado no Quénia e destinado a bebés com seis meses. No total, cereais infantis da marca Cerelac com pelo menos sete gramas de açúcar adicionado por porção foram identificados em sete países africanos.

Relativamente aos produtos para bebés que não contêm açúcar, estes são oferecidos por empresas concorrentes e importados da Europa para a África do Sul. Em cerca de dois terços dos produtos analisados, a quantidade de açúcar adicionado não constava nas informações nutricionais da embalagem.

Lori Lake, investigadora da Universidade da Cidade do Cabo, comentou que estas práticas refletem uma longa história de colonialismo, exploração e racismo. Ela destacou que a Nestlé parece estar a contribuir para o aumento da obesidade e das doenças relacionadas à alimentação na África, especialmente em áreas rurais onde as mães utilizam frequentemente Cerelac.

Os critérios utilizados pela Nestlé têm sido questionados, uma vez que em mercados mais exigentes, como Alemanha e Reino Unido, todos os produtos Cerelac para bebés com mais de seis meses são isentos de açúcar adicionado. Na Suíça, onde a empresa tem a sua sede, os produtos da marca Cerelac também não contêm açúcar adicionado.

Organizações não-governamentais que participaram da investigação dirigiram um apelo à Nestlé, afirmando que todos os bebés têm o direito a uma alimentação saudável, independentemente da sua nacionalidade ou cor da pele, e exortaram a empresa a agir de forma responsável, tendo em vista que o mundo está a observar.



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